Gestal-Terapia
As clínicas gestálticas
E foi a partir da discriminação das três funções fenomenológicas supra que os fundadores da Gestalt-terapia puderam consolidar uma nova teoria sobre a gênese das diferentes formas de contato entre a atualidade e a inatualidade.
Quando um fundo habitual encontra, na atualidade, possibilidades de repetição, a função ego articula formas de contato entre o passado e o futuro às quais denominamos de fluidas. Quando a função id, entretanto, está por alguma razão ausente, falhada ou desarticulada, vemos emergir, na atualidade, formas de contato que procuram preencher ou articular o fundo de hábitos que, espontaneamente, não se apresentam. Temos, então, formas de contato às quais denominamos de ajustamentos de busca do passado (ou ajustamentos psicóticos). Quando, a sua vez, a função ego é impedida de agir em decorrência de um hábito inibitório que retorna do passado (inibição reprimida), temos um tipo de forma de contato que denominamos de ajustamento de evitação (ou ajustamento neurótico). Na fronteira de contato testemunhamos a repetição de hábitos evitativos, que impedem a assimilação do que se esteja vivendo, bem como o crescimento na direção de novas experiências de contato. Quando, todavia, não houver dados materiais a oferecer possibilidades para que os hábitos (função id) possam se repetir, vivemos na fronteira de contato uma experiência de aflição, de sofrimento ético-político e antropológico. Só resta à função ego pedir socorro ao semelhante, o que constitui um ajustamento de inclusão.
Ora, para os fundadores da Gestalt-terapia, dependendo do tipo de forma que se apresenta na sessão, temos caracterizado um tipo diferente de clínica gestáltica. Se as formas que surgirem forem de busca, temos uma clínica gestáltica da psicose. Se forem de evitação, temos uma clínica gestáltica da neurose. Se forem aflitivas: clínica gestáltica do sofrimento ético-político e antropológico. E o critério diagnóstico fundamental para que um gestalt-terapeuta possa reconhecer a configuração de uma forma ou de outra é a maneira como ele próprio é requisitado a participar do campo clínico. Aprender a reconhecer em si a maneira como se é requisitado a fazer parte ou não de uma experiência de contato entre o atual e o inatual: eis aqui a principal competência que se exige de um gestalt-terapeuta e o principal desafio aos formadores de futuros gestalt-terapeutas.